21 de jun. de 2011


" É uma encruzilhada, onde cada um é livre para escolher que caminho tomar, mas de onde os passos não se apagam depois de passar."





Há algum tempo venho sentindo a necessidade de escrever algo sobre a Praça Zumbi dos Palmares e o que temos feito dela.
Este me parece um momento propício, já que tenho pensado a próxima ação e em meio aos convites que faço sempre digo um pouco sobre que coisa é esta.
Então vamos lá. Hoje, para mim, a ocupação na Praça Zumbi dos Palmares se configura como uma obra. Algo comparado a uma orquestra, em que há muitos elementos importantes que, somados, criam uma outra coisa. Só que uma orquestra tem uma ordem que esta ação não tem e eu nem imagino que deva ter, tembém não há a figura do regente que mostra os caminhos. É quase uma orquestra ao contrário então.... Se apenas uma pessoa atende ao chamado e toca sozinho seu instrumento esta obra também acontece. Ao mesmo tempo que, se eu cantar, dançar e ocupar sozinha aquele lugar a obra ainda não se dará. Pelo menos é o que eu acho...
No começo dos trabalhos, dois anos atrás, o Bruno Perê escolheu um trecho do livro Estética Relacional, de Nicolas Bourriaud, enquanto pensava aquele negócio que tinhamos acabado de fazer e falou que "O que se produz são espaços-tempos relacionais, experiências inter-humanas que tentam se libertar das restrições ideológicas da comunicação de massa".
E começou assim, com essa abertura de espaço para um novo tipo de conversa, uma conversa feita de presenças, de práticas, de trabalho, doação e muita diversão.
É por que o resultado destes encontros ficou no meu corpo de uma forma tão latente que eu passei a entender esta coisa toda como construção.
Mas aí tem ainda mais coisa. Não acredito também que esses momentos vibrem em mim tão forte por acaso. Alguma ancestralidade memoranda em mim se acende ao passar um dia “com” Zumbi dos Palmares. É uma sensação de fuga, não para o esquecimento, mas como única maneira possível para a criação de um espaço de liberdade, igualdade de direito, direito à diferença e respeito.
É para além do nome de Zumbi que nos referimos a ideia de quilombo quando ocupamos este espaço de terra e mato ao norte da cidade. É para além de ocupar um espaço ocioso na Vila Nova Cachoeirinha que passo o dia na praça, ocupo também espaços não lembrados em mim.
E neste momento, com alguns passos dados, seguindo estes rastros deixados por tantos transgressores, começo a identificar outras pegadas neste caminho.
Sinto que não apenas me aquilombo mas, também, ando em círculos junto às Mães da Praça de Maio, grito com toda a força e com a voz abafada a tiros dos extrativistas do norte, driblo a estatística de genocídio de jovens negros.
Penso que agora, ocupar a Praça Zumbi dos Palmares, como ainda vou dizer outras vezes, também é se ligar a muitas histórias, muitos caminhos, muitas construções. É uma encruzilhada, onde cada um é livre para escolher que caminho tomar, mas de onde os passos não se apagam depois de passar.

Foto:Pintura da Pedra Preta. Intervenção de abertura dos trabalhos na Praça Zumbi dos Palmares em junho/11. Avelino Regicida e Amanda Prado.

Um comentário:

  1. Saiu o vídeo com o registro da intervenção, olha lá http://www.youtube.com/watch?v=W3fm-_OddDI

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